Uma mulher que não desiste dos seus sonhos
Conheça Teresa Cristina Villano, profissional de nível técnico que desenvolveu o adesivo reciclado para manutenção de pintura e contenção de corrosões
“Eu não pensava em casar ou ter filhos, meu sonho era ser diplomata. Mas aos 21 anos me casei e fui seguir o sonho do meu marido, que era ser dono de loja. Engravidei aos 24, depois aos 30. Os anos foram passando e eu fui perdendo minha identidade, era esposa e mãe. Meus filhos foram crescendo, precisando cada vez menos de mim. Eu me sentia presa naquele casamento, naquela vida. Aos 35, eu decidi que era hora de tentar seguir meus próprios sonhos”.
Teresa é dessas pessoas que inspiram. Iniciou sua vida profissional de forma tardia, depois de “cumprir seu papel esperado na sociedade” enquanto mulher - casar e ter filhos. Um peso que as mulheres carregam assim que nascem, e que vai sendo transferido a elas ao longo dos anos, de forma clara ou velada. Mas Teresa nunca desistiu. Fez seu “papel” e partiu para conquistar seus sonhos e sua própria independência.
Para as mulheres, os caminhos que a vida descortina são quase sempre mais longos e tortuosos. E foi numa dessas curvas que a Petrobras entrou na vida da Teresa. “Eu queria me divorciar, mas não tinha emprego. Eu era ‘mãe’. Precisava trabalhar para sustentar a casa e meus filhos. Então eu tracei um plano. Como não tinha experiência, decidi fazer concurso, pois eu sabia que seria admitida com base na minha capacidade intelectual”. O que não era pouco, muito pelo contrário, pois Teresa já era formada em História e Relações Internacionais, e ainda se formaria em Direito.
O começo na Petrobras
“O dia que eu recebi meu primeiro salário e consegui pagar minhas contas, cheguei no banco com o meu condomínio, com a minha luz, com meu gás... parecia que eu tinha ganho na loteria”.
Era o começo do sonho. Após ser admitida para um cargo de nível técnico, na área da Engenharia, Teresa precisou aprender absolutamente tudo sobre o trabalho. Era seu primeiro (e tardio) emprego, cercada de homens com mais experiência e por vezes menos idade que ela. Poderia ser intimidador, mas ela seguiu em frente. O trabalho para o qual foi admitida consistia em acompanhar obras de engenharia e incluía viagens frequentes. Teresa então precisou acionar sua rede de apoio, contando com a ajuda da mãe para cuidar dos filhos e da casa durante as ausências dela.
O caminho até o projeto
Foram anos viajando o Brasil, até assumir o cargo de Coordenadora de Projetos na área de Qualidade. “Todos os outros coordenadores da minha gerência eram engenheiros e tinham uma área específica de atuação. A única pessoa que não tinha especialidade era eu. Isso me limitava também porque eu não podia fazer atendimento técnico. Aí um dia, aconteceu de eles estarem precisando de gente para inspeção de pintura. Numa reunião, o gerente perguntou se alguém queria. Eu fui a primeira a levantar a mão”.
Depois de se especializar e passar a fazer embarques esporádicos e , acompanhando as inspeções de pintura, a gerência em que Teresa atuava migrou para dentro do Cenpes (Centro de Pesquisas e Inovação da Petrobras). “Ali foi outro enorme desafio, porque era uma mudança de mindset. A gente trabalhava com coisas concretas. A construção de uma unidade, a qualidade de uma unidade. E tivemos que começar a pensar de forma abstrata. Fomos buscar ideias, projetos, parcerias”.
Uma dessas ideias levou Teresa e mais dois colegas, Fernando Cunha e Pedro Villalobos, à Universidade Federal de Minas Gerais. “O professor Fernando Cotting mostrou uma linha de pesquisa com PET reciclado. Ele tinha desenvolvido esse filme de pet , mas não sabia o que fazer com ele. Então, eu linkei isso com as inspeções que eu fazia na plataforma. Era comum, com a tinta ainda úmida, aindaimes ou ferramentas serem manuseados e danificarem a pintura. Minha ideia inicial era pegar o pet moído e adicionar à tinta, porque ele iria tornar a tinta mais resistente ao impacto”.
Dois nãos, até um sim
Com essa ideia, Teresa foi ao Comitê Técnico Operacional do Cenpes, instância que avalia trimestralmente a entrada de novos projetos na carteira. Teve o patrocínio negado, por duas vezes. Mas obviamente ela não desistiu.
Até que um dia teve outro insight. Ouviu o termo “adesivo estrutural” e ali mudou o rumo da sua trajetória profissional. “É isso! Não é a tinta! A gente precisa de um adesivo!”. Dito e feito. Após a confirmação junto à Universidade de que seria possível o desenvolvimento de um adesivo com o material, o projeto foi novamente apresentado ao Comitê e, desta vez, conseguiu o apoio financeiro necessário para o seu desenvolvimento.
O voo do adesivo
“A gente iniciou o teste de campo na Refinaria de Duque de Caxias e no Cenpes. E aí a gente foi trabalhando, melhorando o adesivo. Hoje a gente está já na formulação final, com testes de campo em cinco plataformas”. O material, de fácil manuseio, pode ser usado em qualquer superfície metálica que tenha dano na pintura.
Depois de três anos trabalhando com a UFMG, a patente verde foi concedida em janeiro. O chamado PET Adesivo resultou em uma parceria com a empresa Karoon Energy, para a fabricação de 60 mil unidades para testes e validação final do produto.
“Eu sou uma pessoa que, quando eu acredito em alguma coisa, eu vou atrás. Eu não desisto. O próprio projeto do pet. Eu não desistia. Eu tive que passar por três Comitês Técnicos. Eu não tenho medo do desafio”.
Com quase duas décadas de serviço dedicados à Petrobras, Teresa diz que está no auge da sua carreira e não pensa em parar. “Meu próximo objetivo é ser supervisora de laboratório. Tentei um processo seletivo interno, no ano passado, mas eram muitos candidatos e eu não consegui a vaga.” Mas isso ela já sabe como reverter. “A comissão me disse que eu não tinha experiência como supervisora. Então agora eu vou começar uma mentoria e atuar como supervisora substituta dentro da minha gerência geral”.
“Tenho milhares de degraus na carreira, estou longe de estar topada, longe. Eu consigo chegar a coordenadora novamente, eu consigo chegar a gerente. Não podemos desistir nem nos acomodar. Se a gente quer, a gente encontra um caminho”. A trajetória da Teresa está aí pra provar.
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